quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ARRENDARÁ A VINHA A OUTROS VINHATEIROS – evangelho Mt 21,33-43

ARRENDARÁ A VINHA A OUTROS VINHATEIROS – evangelho Mt 21,33-43

Há quem acha que o Evangelho seja uma doce água de rosas, um piedoso ensinamento inócuo que, afinal, só serve para enfeitar o que mais lhes convém. Essa visão equivocada, sem dúvida se distancia de qualquer preocupação exegética, contextual e atualizante, além de esquecer a secular interpretação, vivência e testemunho da Igreja, comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus.
Este trecho de Mateus, como muitos outros, é chocante, arrasador, denunciando a sorte daquelas pessoas que só buscam o poder de dominar, humilhar, explorar os demais com a ousadia e sacanagem de querer falar em nome de Deus: a vinha sera arrendada a outros vinhateiros!
Temos aqui uma denúncia e uma profunda recusa daquelas autoridades do templo de Jerusalém, toca de ladrões (Mc 11,17; Lc 19,46), até o ponto em que estas mesmas autoridades decidem matar Jesus (Mc 11,18). Mas verdadeiros canalhas, tem medo da reação do povo. A verdade revela os planos das trevas.
É briga, briga declarada. Aqueles que se acham os destinatários das promessas antigas, banhadas no sangue dos profetas, são agora excluídos, porque não conhecem a conversão; pior, como sempre, só cuidam de seus interesses. Usam o nome de Deus para mascarar sua ganância e mania de exclusão. Afinal, acreditam que podem estar acima do Deus da Vida.
A vida continua, também nos dias de hoje, de um lado uma multidão gritando justiça diante de Deus e do outro, uns poucos que não prezam a igualdade de voz e vez, de direitos e deveres, cuja finalidade existencial é se safar dos demais, mentindo, armados de exércitos, bens, poder e meios informativos que apresentam governos fantoches como se fossem os santuários da democracia.
O que vejo hoje em dia, em nossa realidade e, sem medo de dizer, no mundo todo é a estúpida teoria e prática do acúmulo e da concentração nas mãos de poucos, quando, qualquer economista, de qualquer tendência, sabe muito bem que a economia só tem um caminho: estar aberta a todos. Quanto mais as pessoas tiverem poder aquisitivo, quanto mais se cria giro de negócios e bem-estar. Quanto mais educação e saúde, mais teremos povos capazes de se autodeterminarem sem a canalhice de assaltar os outros com todo tipo de guerra e sabotagem. As autoridades do templo de Jerusalém, achavam que pra sobreviver era suficiente fazer bons olhos aos romanos. Ficar escravos, dependentes, pagar os tributos; o importante era elas terem umas regalias e que o povo se lascasse! O império daquele tempo (Roma), como os impérios de todos os tempos, sabem muito bem que, dividindo as pessoas, é o  meio melhor para dominá-las. E assim foi, pra Jerusalém e pro seu templo; infelizmente,  morte de tantos inocentes, sacrificados no altar da canalhice das autoridades e seus puxa-saco.
Ainda há pessoas ingenuas (ou hipócritas) que acham o mundo divido em comunismo e anti-comunismo. O comunismo histórico se foi, está morto. Hoje domina o mercado; a coisa, as coisas dominam o ser humano, a elas se sacrificam povos inteiros, culturas, até a própria mãe terra. Para isso tudo presta, até o uso da religião, como naquele tempo, assim hoje.
Jesus pregou e praticou a partilha. Até os próprios discípulos diante das multidões famintas pensavam que a solução era o mercado; comprar comida; não tendo dinheiro que os famintos se lasquem. Jesus vai além, muito além de "vocês deem comida", ele pede aos seus: "vocês se façam comida, alimento para aqueles que tem fome de vida" (Mc 6,30-44). Tem pessoas que ao ouvirem isso, acham se trate de um slogan comunista; quando digo que é o Evangelho de Jesus aí elas veem com duas reações: se forem cristãos, ficam vermelhas de vergonha (ainda bem); se forem pseudo-cristãos, se enfurecem e tacham a gente com todo tipo de apelido. Por isso que a Vinha de Deus (= o Reino de Deus, a Igreja, todo Homem de Boa Vontade) será tirado dos mercenários, mesmo que se camuflem atrás de religião ou pseudopartidos políticos. O que espero nestes dias de eleições políticas em nosso país é que as pessoas procurem de fato propostas, projetos em prol do bem dos brasileiros, grande povo, sofrido, mas cheio de tanta esperança. Espero que se larguem briguinhas de parte, interesseiras e se procure esta Vida Plena que Jesus nos aponta na sua Boa Nova.

Contra a imbecilidade do atual anticomunismo

Contra a imbecilidade do atual anticomunismo

17/12/2013

Mauro Santayana é um dos jornalistas mais eruditos do jornalismo brasileiro. Sempre comprometido com causas humanitárias, contundente e dotado de um estilo de grande elegância. Somos colegas como colunistas do Jornal do Brasil-on line. Recentemente, no dia 17/12/2013, publicou um artigo sob o título HAMEUS PAPAM  com o qual me identifiquei imediantamente. Sofro ataques imbecis de que sou comunista e marxista, como se para um teólogo com 50 anos de atividade, fosse uma banalidade fazer esta acusação. Sou cristão, teólogo e escritor. Marx nunca foi pai nem padrinho da Teologia da Libertação que ajudei a formular. O atual anticomunismo  revela a anemia de espírito e a pobreza de pensamento  que  estão prevalecendo como disfarce para esconder o desastre que significa a economia de mercado, altamente predadora da natureza e agressora de todo tipo de direitos humanos e agora numa crise da qual não sabem como sair. Há tempos o Zürcher Zeitung, o maior jornal suiço e pouco depois o Times diziam que o autor mais lido hoje é Marx. Não só por estudiosos, mas por banqueiros e financistas conscientes que querem saber por que seu sistema foi a falência e por que tem tantas dificuldades em sair dele, se é que encontram uma saída que não signifique mais sacrificio para a natureza (injustiça ecológica) e para a humanidade já sofredora (injustiça social). Hoje mais e mais se percebe que este sistema é anti-vida, anti-democracia e anti-Terra. Se não cuidarmos poderá nos levar a um abismo fatal. É uma reflexão que faço contra meus acusadores gratuitos e faltos de razão. Penso às vezes que Einstein tinha razão quando disse:”Existem dois infinitos:um do universo e outro dos estultos; do primeiro tenho dúvidas, do segundo, absoluta certeza”. Estimo que muitos dos anticomunistas atuais se inscrevem nesse segundo infinito. É fácil serrar árvore caída e convardia chutar cachorro morto. Pensemos, antes, no presente com sentido de responsabilidade, unidos face a um feixe de crises que nos poderá levar a uma tragédia ecológico-social. Como fazer tudo para evitá-la e garantir um futuro comum para todos, inclusive para a nossa civilização e para nossa Casa Comum. Essa é a questão maior a ser pensada e sobre ela inaugurar práticas salvadoras e não distrair-se com discutir um comunismo inexistente, morto e sepultado. LBoff
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Habemus Papam
Acusado por um conservador norte-americano de ser marxista, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, negou sê-lo, mas disse que não se sentia ofendido, por ter conhecido ao longo de sua vida muitos marxistas que eram boas pessoas.
A declaração do papa, evitando atacar ou demonizar os marxistas, e atribuindo-lhes a condição de comuns mortais, com direito a ter sua visão de mundo e a defendê-la, é extremamente importante, no momento que estamos vivendo agora.
A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando chique ser de extrema direita — baseia-se em manipulação canalha, com que se tenta, por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar criando uma absurda realidade paralela.
Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita fundamentalista, “museus do comunismo”; surgem por todo mundo, como nos piores tempos da Guerra Fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de se defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma absolutamente fantasiosa, 100 milhões de mortos ao comunismo.
Busca-se associar, até do ponto de vista iconográfico, o marxismo ao nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado, em que os alemães e seus aliados perderam 850 mil homens, e a Batalha de Berlim, vencidas pelas tropas do Exército Vermelho — que cercaram e ocuparam a capital alemã e obrigaram Hitler a se matar, como um rato, em seu covil — a Alemanha nazista teria tido tempo de desenvolver sua própria bomba atômica e não teria sido derrotada.
Quem compara o socialismo ao nazismo, por uma questão de semântica, se esquece de que, sem a heroica resistência, o complexo industrial-militar, e o sacrifício dos povos da União Soviética — que perdeu na Segunda Guerra Mundial 30 milhões de habitantes — boa parte dos anticomunistas de hoje, incluídos católicos não arianos e sionistas, teriam virado sabão nas câmaras de gás e nos fornos crematórios de Auschwitz, Birkenau e outros campos de extermínio.
Espalha-se, na internet — e um monte de beócios, uns por ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso — que o Golpe Militar de 1964 — apoiado e financiado por uma nação estrangeira, os Estados Unidos — foi uma contrarrevolução preventiva. O país era governado por um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do Estado de Direito, e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck presidente da República em 1965.
1964 foi uma aliança de oportunistas. Civis que há anos almejavam chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso, segmentos conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e oficiais — não todos, graças a Deus — golpistas que odiavam a democracia e não admitiam viver em um país livre.
Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres fascistas pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do papa Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como quaisquer outras — e não são os monstros apresentados pela extrema-direita fundamentalista e revisionista sob a farsa do “marxismo cultural” — representam um apelo à razão e um alento.
Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer, pelo menos até agora, que Habemus Papam, com a clareza da fumaça branca saindo, na Praça de São Pedro, em dia de conclave, das veneráveis chaminés do Vaticano.
Um Papa maiúsculo, preparado para fortalecer a Igreja, com o equilíbrio e o exemplo do Evangelho, e a inteligência, o sorriso, a determinação e a energia de um Pastor que merece ser amado e admirado pelo seu rebanho.

Votar em Dilma Roussef para continuar a invenção do novo Brasil

Votar em Dilma Roussef para continuar a invenção do novo Brasil

01/10/2014

Tempos atrás publiquei um artigo com o título “Contra as tramóias da direita: sustentar a Dilma Rousseff” Agora em tempos de campanha presidencial vejo como ele mantem ainda atualidade. Refaço o texto no contexto atual. É notório que a direita brasileira especialmente aquela articulação de forças elitistas que sempre ocuparam o poder de Estado e o trataram como propriedade privada (patrimonialismo), apoiadas pela midia privada e familiar, está se aproveitando da crise que é mundial e não apenas nacional (e temos a vantagem de manter um mínimo de crescimento e o emprego dos trabalhadores, coisa que não acontece nem na Europa e nem nos USA) para fazer sangrar a Presidenta Dilma e desmoralizar o PT e assim criar uma atmosfera que lhes permite voltar ao lugar que por via democrática perderam.

Celso Furtado num livro pouco lido A construção interrompida (1993) escreveu com acerto:”O tempo histórico se acelera e a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação” (Paz e Terra, Rio 1993, 35).

Aqui reside a verdadeira questão: queremos prolongar a dependência daquelas forças nacionais e mundiais que sempre nos mantiverem alinhados e sócios menores de seu projeto ou queremos completar a invenção do Brasil como nação soberana que tem muito que contribuir para atual crise ecológico-social do mundo.

Se por um lado não podemos nos privar de algumas críticas ao governo do PT, mas críticas construtivas, por outro, seria faltar à verdade se não reconhecêssemos os avanços significativos sob os governos do Partido dos Trabalhadores. A inclusão social realizada e as políticas sociais benéficas para aqueles milhões que sempre estiveram à margem, possuem uma magnitude histórica cujo significado ainda não acabamos de avaliar, especialmente se nos confrontarmos com as fases históricas anteriores, hegemonizadas pelas elites tradicionais que sempre detiveram o poder de Estado.

Surgiu um estranho ódio contra o PT em muitos âmbitos da sociedade: suspeito que esse ódio é porque as políticas públicas permitiram aos pobres usarem o avião e visitarem seus parentes no nordeste, que conseguiram comprar seu carrinho e entrar num shopping moderno. O lugar deles, dizem, não é no avião mas permanecer lá na periferia, pois esse é seu lugar. Mas eles foram integrados na sociedade e em seus benefícios.

Devemos aproveitrar as oportunidades que os países centrais em profunda crise nos propiciam: reafirmar nossa autonomia e garantindo nosso futuro autônomo mas relacionado com a totalidade do mundo ou desperdiçá-las e vivermos atrelados ao destino sempre decidido por eles que nos querem condenar a sermos apenas os fornecedores dos produtos in natura que lhes falta e assim voltam a nos recolonizar.
Não podemos aceitar esta estranha divisão internacional do trabalho. Temos que retomar o sonho de alguns de nossos melhores analistas do quilate de Darcy Ribeirp e de Celso Furtado entre outros que propuseram uma reinvenção ou refundacão do Brasil sobre bases nossas, gestadas pelo nosso ensaio civilizatório tão enaltecido mundialmente.
Este é o desafio lançado aos candidatos à mais alta instância de poder no país. Não vejo figura melhor para seguir nesta recontrução a partir de baixo, com uma democracia representativa e participativa, com os seus conselhos e movimentos populares opinando e ajudando a formular caminhos que nos levem para frente e para o alto do que a atual Presidenta Dilma.
A situação é urgente pois, como advertia, pesaroso, Celso Furtado: “tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional” (op.cit. 35). Nós não queremos aceitar como fatal esta severa advertência. Não devemos reconhecer as derrotas sem antes dar as batalhas como nos ensinava Dom Quixote em sua gaia sabedoria.
Essa batalha será decidida dia 5 de outubro. Que os bons espíritos guiem os rumos de nosso país.

http://leonardoboff.wordpress.com/2014/10/01/votar-em-dilma-roussef-para-continuar-a-invencao-do-novo-brasil/